"No Entrudo come-se tudo"...e talvez uma sericaia...

Filhós
"Talvez para justificar atitudes e comportamentos que as normas sociais nunca aceitaram e frequentemente condenaram, alguém ditou, no tom de sabedoria que caracteriza o adágio popular: "No Entrudo vale tudo". Não será bem assim, por muitos que sejam os desmandos cometidos neste período que antecede a Quaresma. Mas há outro dito, idêntico, que se aceita pacificamente e corresponde à realidade dos dias de hoje, tempo cada vez mais de Carnaval-cartaz-de-turismo, onde já mal se divisa o antigo Entrudo português-caceteiro e ofensivo, avinhado e licencioso. Esse dito, está-se a ver, relaciona-se com a comida: "No Entrudo come-se tudo". Mas mesmo aqui é preciso cuidado com as afirmações definitivas: no Entrudo não tem lugar o peixe, que segundo a já referida sabedoria popular não puxa carroças, e nesta quadra festiva há sempre carroças a puxar, algumas bem pesadas por sinal."
                                                        em "Festas e Comeres do Povo Português" de Mª de Lurdes Modesto

Comer bem e beber melhor continua a ser uma das regras de ouro do Carnaval. Nas ementas predomina a carne de porco (fresca, salgada, fumada ou em enchidos), destacando-se, sobretudo no Norte e Centro do país, o chispe e a orelheira.
Em Trás-os-Montes é frequente comer-se feijoada, cozinhada com feijão encarnado ou feijão branco. Os pézinhos de coentrada, uma das mais emblemáticas especialidades da cozinha Alentejana, constituem a refeição do Domingo Gordo. E embora haja variantes, aquilo a que chamamos cozido à Portuguesa é na verdade o cozido à Transmontana.


Pratos servidos no Entrudo

Também existem sobremesas específicas do Carnaval, com destaque para as filhoses (em algumas terras chama-se Sábado Filhoeiro ao Sábado Gordo). Além das filhoses são ainda da tradição azevias, boleimas, coscorões e nogados no Alentejo, os bolinhós no Algarve e as malassadas nos Açores.


Adaptado de:  Festas e comeres do Povo Português (I),Mª de Lurdes Modesto, Afonso Praça e Nuno Calvet,Verbo,1999


Sericá ou sericaia. Diz-se que a receita veio do Oriente...Seja qual for a sua origem, em Elvas tem tido bom tratamento - em Elvas e noutras regiões Alentejanas.

Ingredientes:

6 ovos
70 gr de farinha
5 dl de leite
300 gr de açúcar
manteiga
canela em pó

Preparação:

Separar as gemas das claras. Dissolver a farinha e as gemas no leite.
Levar o açúcar ao lume com um pouco de água e deixar ferver até começar a alourar.
Adicionar a mistura de leite, lentamente, e deixar cozer, mexendo, até ficar bastante espesso. Retirar do calor e deixar arrefecer.
Bater as claras em castelo e juntar ao preparado anterior, em movimento suaves de baixo para cima.
Deitar o sericá num prato de barro ou de estanho bem untado de manteiga, em colheradas desencontradas.
Polvilhar com canela em pó e levar ao forno bem quente até começar a abrir fendas.



8 comentários:

  1. Adoro sericaia, mas nunca fiz, tenho que experimentar :)

    Beijinhos,
    joana

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    1. Eu também sou fã, esta receita é um pouco diferente da habitual, fica mais cremosa.
      Beijinhos e Bom Carnaval
      Lena

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  2. Provei sericaia quando estive em Évora no mes passado e gostei muito. Levo comigo a receita, para a experimentar em casa quando me derem as saudades!

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    1. Paulinha, é um do meus preferidos dos doces tradicionais Portugueses. Atenção ao colocar a massa na forma, as colheradas têm de ser desencontradas...:)
      Beijinhos
      Lena

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    2. Obrigada pela dica, vou levar isso em atenção! È engraçado que quando comi sericaia, desconhecia de todo a forma como era feita, e ao provar, pensei mesmo que levava pão! Como eu estava errada :s

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  3. Uma sobremesa que é um clássico do Alentejo.
    Maravilhoso....
    Bjs

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